O CANTO DE GREGÓRIO
2º Trabalho do Grupo Magiluth | Ano: 2011


APRESENTAÇÃO
     
Segundo trabalho da trilogia ̈seres humanos tentativos ̈, O Canto de Gregório foi criado pelo Grupo Magiluth a partir do segundo semestre de 2010, tendo estreado em março de 2011 em Recife e circulado por importantes festivais do país.
     
O Canto de Gregório, peça do paulista Paulo Santoro, encenada em Recife pelo grupo Magiluth, com a direção de Pedro Vilela, nos conduz levemente à verdade tão pesada: de que Gregório e todos nós habitamos a incerteza. No palco encontramos os atores Pedro Wagner, Giordano Castro, Erivaldo Oliveira e Lucas Torres. Os três últimos constituem, ao bom modo freudiano, como que as três instâncias da psique aturdida do protagonista, disputando sem tréguas a sua consciência e as suas atitudes. Cada cena se abre como um sonho, mais um delírio da coerência suprema de Gregório. Da recente montagem do Grupo Magiluth parece ser impossível não voltar pra casa afogado na “dúvida sistemática” de Gregório.
     
Tudo leva a crer que estamos dentro da cabeça de Gregório. A cabeça de Gregório e seus labirintos. A cabeça é toda branca por dentro, como há de ser o Nada que Gregório vai triscando, com método, na curva dramática do personagem sobre si mesmo. Quer ser asséptico e cristalino esse homem que chega, com sua “dúvida sistemática”, às últimas consequências do seu delírio.
     
Assim Gregório, frágil demais para ser herói ou vilão, se revela durante o espetáculo um estranho culpado ou inocente, despertando no público piedade e raiva. O texto e esta encenação nos colocam frente a frente com problemas éticos de primeira grandeza. Ao que parece, não estamos preparados, nem filosoficamente nem juridicamente, para responder o que é um homem Bom. Gregório quer ser bom, mas acredita piamente que a bondade resulta de um cálculo da razão, quando não passa de uma conclusão provisória da retórica. Ou estaria em si mesma, a bondade, sem atributos? A Jesus, a Buda e à sabedoria de Sócrates Gregório apela. Quer deles a luz, a resposta, o caminho, a saída de emergência deste seu castelo apertado. Mas, todos nós lamentamos, não tem saída. Ou, se preferirmos, tudo constitui uma imensurável saída, uma porta demasiadamente aberta, eis o Absurdo.
     
O disparo, inexplicável, de Gregório contra o peito de um cidadão nos pertence como a chacina da qual todos nós, sem Deuses, nos encontramos por um triz. E cremos estar ainda fresca demais a trágica memória de Realengo. O que move a ação criminosa de um homem — se são suas verdades inacabadas ou suas dúvidas absolutas, sua maldade manifesta ou sua bondade particular — o nó de O Canto de Gregório. A pergunta, ao final, que vibra nos olhos deste homem, é: o que restou? A peça finda por ali, no apagar da magnífica luz elétrica. Nós voltamos para casa, saímos para tomar uma cerveja, conversamos uns com os outros mergulhados no mesmo fluido impalpável das verdades provisórias, dos pequeninos deuses, do fiapo obscuro que separa o dedo engatilhado de um homem, além do Bem e do Mal, do disparo contra o peito de um cidadão.
         
SINOPSE  

Gregório é um personagem inquieto com o sentido de suas próprias ações. Sozinho em seu canto, ele busca uma ética, conversando com mitos da religião e da filosofia e armando um cenário para ser julgado pelo crime de não ser um bom homem.
         
FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO: Pedro Vilela
DRAMATURGIA: Paulo Santoro
ILUMINAÇÃO: Pedro Vilela
ELENCO: Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres e Pedro Wagner
DIREÇÃO DE ARTE: Guilherme Luigi, Cecília Pessoa e Renata Gamelo. SONOPLASTIA Mohammed Thelma
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